I

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Leopold

por Luiz Antonio de Assis Brasil

4/4.  simplificação de “compasso 4/4”, em que há 4 batidas em cada compasso. Também chamado de compasso simples.

abertura. Peça musical prévia a uma ópera e que, normalmente, traz os temas das árias que a constituem. W. A. Mozart era conhecido por compor suas aberturas de última hora, causando o desespero dos diretores e empresários musicais.

ária.  Peça musical a ser cantada por apenas uma voz e integrante de um contexto maior, como o de uma ópera ou oratório. Por vezes ganharam autonomia, e eram prestigiadas por si mesmas, o que se tornou numa prática bem comum no período. Isso acabou por gerar a ideia equivocada do público nosso contemporâneo, que as escuta e vê na TV pensando de que se trata de uma canção avulsa, o que significa uma grande perda cultural.

acorde. Entoação simultânea de um conjunto de sons, em geral 3 ou mais.  

allegro moderato. V. andamento.

Amati. Os violinos são designados pelos nomes de seus fabricantes. Amati, junto com Stradivarius e Guarnieri eram, e ainda são considerados, os melhores de seu tempo, com preços às vezes astronômicos, mesmo no período de Leopold. Os Mozarts pai e filho, praticavam em instrumentos mais modestos, alemães ou austríacos, mas de excelente qualidade.

andamento. Principalmente, significa o grau de velocidade [e, às vezes, de intenção] com que são executadas as músicas. São citados nesta novela: adagio [Em português, “adágio”], que significa um andamento muito vagaroso, que possui conotações reflexivas, e quando não, dolorosas. Um exemplo bastante conhecido do grande público é o adágio em Sol menor do mestre barroco italiano Tomaso Albinoni; scherzo – Em português, “brincadeira”. A contar da época de W. A. Mozart, passou a ser o nome de um movimento de sinfonia, sonata ou quarteto, muitas vezes substituindo o minueto. Caracteriza-se por ser leve, agitado e alegre, fazendo jus a seu nome.

antifonário. V. antífona.

antífona. Versículo em latim cantado ou entoado pelo celebrante católico romano antes de um salmo ou canto bíblico; logo os fiéis o repetem. O conjunto de antífonas leva o nome de antifonário.  W. A. Mozart escreveu antífonas desde muito cedo.  Um bom antifonista foi o mestre brasileiro da época colonial, Emérico Lobo de Mesquita [1746-1805].

arco. Acessório de alguns instrumentos de corda, que fazem vibrá-las e, assim, produzindo as notas. Consiste numa vara de madeira dura, a que aplica um retesado feixe de crinas de cavalo. Em seu Método de violino, Leopold dedica-lhe vários momentos, em especial nas partes 4, 5, 6 e 7, fazendo-lhes acompanhar de bonitos desenhos que ilustram o modo correto [“regras”] de como segurar o arco.

baixo. No contexto em que o termo é usado nesta novela, e de maneira bem simples, significa apenas o chamado “acompanhamento” da melodia tocada pela mão direita no teclado.

banda dos janízaros. Música turca, militar, com forte presença de instrumentos de percussão. Estavam em grande moda no período. Vários compositores tentavam imitar o ritmo e as melodias dos janízaros, como W. A. Mozart, como se percebe na novela; não o fez apenas em O rapto do serralho, mas, também, na célebre “Marcha turca”, que vem a ser um movimento da Sonata para forte-piano K. 331. A execução desse movimento foi o terror das formaturas de estudantes de piano no Brasil.

barítono. Voz masculina, entre tenor e baixo, isto é, nem muito aguda, nem muito grave. Leopold, na passagem com Martha Elisabeth, sente certo orgulho de possuir uma “restante voz de barítono”, o que significava, para ele, certa proeza varonil.

Bastien und Bastienne. Em português, poderia ser “Bastião e Bastiana”. Pequena e graciosa ópera de um ato, composta em  Viena em 1768 e possivelmente estreada nos jardins do dr. Mesmer. Libreto de Friedrich Wilhelm Weiskern. Inspirada na ópera Le devin du village, de Rousseau, de 1752.

bodas de Fígaro, As.  Em italiano, “Le nozze di Figaro”. Estreia em 1786 em Viena, no Burgtheater. Teve 9 récitas na primeira temporada, o que é espantoso.  Tornou-se uma das óperas mais representadas na história da música.

Burgtheater. A partir de 1776, Teatro Nacional Alemão. Foi erigido em 1741 sob o reinado da imperatriz Maria Theresia, ao lado do Hofburg. Seu filho, o imperador Joseph II, alterou o nome da casa tendo em conta o crescente prestígio da Ópera alemã. Três óperas de W. A. Mozart ali tiveram suas estreias: O rapto do serralho [1782], As bodas de Fígaro [1786] e Così fan tutte [1790].

caçada, A. Obra de Leopold Mozart. V. Sinfonia dos Brinquedos

cadência. Em italiano, “cadenza”. Trecho de um concerto, posto quase ao fim do primeiro movimento, em que a orquestra emudece para que o solista improvise em torno do tema dominante. Por vezes, mas raramente, o próprio compositor a escreve. É o momento em que o solista mostra toda sua virtuosidade e, mais ainda na época da novela, fazia a delícia das plateias.  

Casa do Mestre de Dança. Em alemão, “Tanzmeisterhaus”. Edificação situada na Praça Hannibal, hoje Makartplaz, à margem direita do Salzach. Ali viveram os Mozarts depois que se mudaram da Getreidegasse, em 1773. W. A. Mozart de lá saiu para fixar-se em Viena. Tratava-se de uma casa burguesa confortável e ampla, considerando a exiguidade do apartamento da Rua Getreide. Seu salão abrigou as mais memoráveis audições da Europa central, propiciadas pela família. Um dia será escrito um livro apenas sobre a importância desse salão para a história da música. No ano de 1944 foi destruída em mais de 2/3 por uma bomba dos aliados [desde a esquina até a porta que se abre para a praça], sendo depois reconstruída de acordo com a planta original. Em 1996 foi inaugurada em seu esplendor, com apoio da firma japonesa Dai-ichi Life Insurance Company. Abriga hoje um museu bastante completo sobre os Mozarts, que possui muito material histórico, instrumentos autênticos – o célebre forte-piano de W. A. Mozart, o quadro de Della Croce escritos de Leopold, seu mais durável – e notável – locatário. Outro museu, este dedicado apenas a Leopold, encontra-se na Alemanha, em Augsburg, sua cidade natal: é a Leopold-Mozart-Haus, recentemente renovada. Ali ele nasceu e viveu até mudar-se para Salzburg. Dela constam objetos autênticos e experiências musicais interativas, bem como uma excelente réplica da carruagem dos Mozarts.

casamento de Fígaro, O. [Le mariage de Figaro] Famosa e revolucionária peça teatral de Caron de Beaumarchais [1732-1799], que W. A.. Mozart, em 1786 – fora do período desta novela, portanto -, transformou em ópera com o libreto de Lorenzo da Ponte, sob o título, em italiano, de Le Nozze di Figaro. Foi encenada pela primeira vez no Brasil em 1928, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro.

casamento no campo, O. Obra de Leopold Mozart. V. Sinfonia dos Brinquedos

castrati. Italiano. Plural de “castrato” [em português, castrado]. Cantores que foram emasculados antes do início da puberdade, para não perderem sua voz aguda. Bastante comuns até o final do século XVIII. O mais notório, e que aparece como personagem desta  novela, foi o italiano Farinelli [pseudônimo de Carlo Maria Broschi – 1705 – 1782]. Sobre sua figura o diretor Gérard Corbiau realizou em 1994 o celebrado filme que leva o título de seu protagonista.  

cânon. Composição em que um tema musical é imitado várias vezes em sequência. O melhor exemplo é referido na própria novela: trata-se do famoso cânon escrito por Johann Pachelbel, bem conhecido do público leigo como trilha sonora de comerciais e em situações melodramáticas de filmes.

cavatina. Italiano. Composição vocal simples, para ser cantada a uma voz única, sem repetição e sem segunda parte.

círculo das quintas. Sistema auxiliar para realizar a harmonização, já multicentenário na época desta novela, e conhecido por todos os músicos. Esse sistema é simplificado graficamente na forma de um círculo com notas dispostas à sua volta. Muito usado no período barroco – mas não só -, o uso engenhoso do círculo das quintas dá à essa música um som que, mesmo que não conheçamos nada de teoria musical, podemos dizer, só ao ouvir: “Isso é barroco!” Seu uso, com alterações, entrou pelo século 19 e 20, incluindo-se aí Wagner, Schubert, os improvisadores do jazz e os Beatles, estes últimos em You Never Give Me Your Money, incluído no lendário álbum “Abbey Road”, de 1969.

clarinete.  Instrumento musical de sopro, de palheta simples e com chaves, do naipe das madeiras, embora seja também confeccionado em metal. No período desta novela, o clarinete estava despontando como instrumento de orquestra, sendo em Mannheim seu uso inicial. W. A. Mozart gostava do clarinete: escreveu-lhe um quinteto e um concerto, além de incluí-lo nas suas composições instrumentais. Nessa época, W. A. Mozart estava avaliando todas as possibilidades desse “novo” instrumento.  

concerto. No século XVIII, definia-se como uma forma musical em três partes para um instrumento solista acompanhado de orquestra. Os concertos mais comuns eram para teclado e para violino, embora se praticassem com outros instrumentos. Em geral, era nos concertos que os solistas gostavam de mostrar suas habilidades de virtuose. “Concerto” também designava genericamente, tal como hoje, um espetáculo musical.

contradança. Do inglês country-dance [dança camponesa]. Dança de andamento rápido. Figurava tanto nos bailes burgueses como aristocráticos. No período da novela, estava no seu auge. Transformou-se, depois, na quadrilha, e assim chegou aos salões do Império no Brasil.

conservatório. Escola dedicada ao ensino musical. Os mais notórios e respeitados eram os italianos, por onde passavam os melhores músicos europeus. Era uma honra, para um profissional, haver passado, por exemplo, pelos conservatórios de Nápoles ou de Bolonha; isso não só lhe garantia excelência artística como o respeito de seus contemporâneos.

contralto. A voz feminina mais grave, considerada rara em todos os tempos.

contraponto. A arte do contraponto é a de combinar duas ou mais melodias que se executam ao mesmo tempo. Considerava-se um conhecimento indeclinável para todo músico profissional, especialmente se compositores. O aprendizado musical o tinha em grande conta e, como se lê na novela, Leopold fazia de tudo para que seu filho o conhecesse bem, também para que não passasse vergonha perante colegas.  

cravo. Instrumento de teclado, com cordas pinçadas por penas de aves ou espículas de couro. Teve seu auge nos séculos XVII e XVIII.  No período da novela, estava em processo de substituição pelo forte-piano. Os Mozarts possuíam ambos instrumentos, além do antigo clavicórdio de estimação, tantas vezes referido nesta novela.

crescendo. Italiano. Aumento progressivo da intensidade do som em determinada passagem. Muitas vezes é marcado, graficamente, com duas linhas que se abrem para a direita, formando um ângulo agudo. No contexto da novela, assim como o diminuendo, refere-se a uma novidade ao ser aplicado a uma interpretação orquestral, como a obtida pela famosa agrupação musical de Mannheim, onde W. A. Mozart tanto aprendeu.

dedilhado.  Deriva do verbo “dedilhar”, que é o ato de fazer soar um instrumento usando as pontas dos dedos. O dedilhado é referido por algarismos que indicam os dedos que o executante deve usar na execução de determinada música. Em seu Método de violino, Leopold dá grande importância ao dedilhado, considerando-o como a suprema técnica que o violinista deve dominar.

dies iraeV. réquiem. Latim. Tradução: “Dia da ira”. Um momento dessa peça musical, em que se narra a condenação dos pecadores ao inferno.

diminuendo. Italiano. Prefere-se “decrescendo”.  diminuição progressiva da intensidade do som em determinada passagem. Muitas vezes é marcado graficamente, com duas linhas que se abrem para a esquerda, formando um ângulo agudo.

dinâmica. Embora a palavra possa referir-se a aspectos mais específicos da execução musical, nesta novela, refere-se à intensidade [“altura”, popularmente] com que a música é executada. Os músicos do período desta novela já encontraram marcações feitas pelos autores para anotarem abreviaturas de expressões italianas, como, por exemplo p. [piano, i. é., fraco] f. [forte]. Exceto em algumas músicas da nossa contemporaneidade, essas marcações seguem sendo usadas com a mesma forma, ou transformadas segundo a intenção do compositor.

dissonância. Tal como concebida na época, significava “soar duplamente”. São sons que, executados ao mesmo tempo, se repelem, dando ao ouvido a impressão de dois sons distintos, causando, assim, uma sensação desagradável ao ouvido. Compositores evitavam-na, exceto quando a usavam para um efeito estético, provocador dos ouvintes, tal como no Quarteto de W. A. Mozart, chamado de “A dissonância”, e referido nesta novela.

divertimento. Plural. Italiano. No singular, “divertimento”, que significa uma peça musical em várias partes, instrumental de caráter leve, às vezes brincalhão, normalmente a ser executado nos salões, embora, com W. A. Mozart, tenha ascendido à dignidade dos palcos e salas de espetáculo.

episódio. Motivo secundário introduzido no decurso de um rondó, de menor importância que o tema, e que se alterna com este, numa sucessão previsível: tema > episódio 1 > tema > episódio 2, e assim por diante.  

escala. Série de notas agrupadas na ordem de suas alturas, dentro da oitava.

escala descendente. Quando cantada ou tocada da nota mais aguda para a mais grave.

finta simplice, La. Italiano. Em português, “A fingida simplória”. Ópera em três atos do menino W. A. Mozart [12 anos, na época] com libreto de Marco Coltellini sobre poema de Carlo Goldoni. Depois dos problemas da estreia em Viena, isso veio a acontecer em Salzburg, em 1769, possivelmente na Residenz. Leopold teve muito a ver com essas idas-e-vindas, sempre no sentido de preservar a figura e a obra de seu filho.

finta giardiniera, La. Italiano. Em português, “A fingida jardineira”. Ópera em 3 atos, estreada em Munique em 1775, para o carnaval daquele ano.   

flauta transversa. Instrumento de sopro tocado no sentido transversal em relação ao corpo de executante. A partir de um momento mais avançado, algumas foram dotadas de chaves que obliteram os orifícios por onde passa o som. Na época dos Mozarts, ainda eram confeccionadas em madeira, e seu tubo era levemente cônico. Hoje são de metal e com o tubo cilíndrico. As modernas orquestras que executam músicas do século XIX para baixo, voltaram a usar as flautas de madeira, para garantir som mais autêntico.

forte. Italiano. Indicação para que se execute a passagem musical com um som robusto.  

forte-piano. Instrumento musical de teclado que, na época de Leopold, começava a impor-se sobre o cravo, pois produzia um som mais forte, capaz de atingir auditórios que ficavam cada vez maiores. Seu nome surgiu do fato de que, ao contrário do cravo, podia soar forte e fraco [piano, em italiano]. Na língua portuguesa, por vezes é grafado como fortepiano ou pianoforte. O forte-piano que Wolfgang mais usou em Viena, com a extensão de 5 oitavas, foi restaurado e está preservado e em exposição permanente na Mozarts Wohnunghaus, Casa do Mestre de Dança, em Salzburg. Os modernos sintetizadores costumam ter a mesma extensão [5 oitavas, 61 notas]. Constitui uma falta de acuidade musical tocar obras de Leopold e de W. A. Mozart e seus contemporâneos em enormes pianos de concerto. Hoje isso está mudando rapidamente, e modernas gravações, concertos e recitais internacionais passaram a usar o forte-piano ou o cravo para obras do século XVIII. Com isso, consegue-se o som autêntico da época, o que nossos ouvidos agradecem. Pena que esse hábito ainda não chegou plenamente ao Brasil, devido, em parte, aos custos implicados.

frase musical. Termo de difícil definição, dadas suas múltiplas interpretações. Uma das teorias, entretanto, diz que se trata de um fragmento linear de música de até 5 compassos. Outras dizem que pode chegar a mais de 30 compassos.  

fuga. Arte ligada ao contraponto, em que, a partir de um tema central, as diferentes vozes, uma a uma, parecem “fugir” desse tema. No período, era uma arte muito prestigiada, submetida a regras inevitáveis para qualquer estudante de música. Um fugato monumental está no quarto movimento de sinfonia no. 41, k. 551, de W. A. Mozart, fora do período desta novela, em que se mostra devedor dos fugatos de Michael Haydn. Aliás, numa carta para Salzburg, W. A. Mozart pedia ao pai que lhe enviasse cópias de todos os fugatos que Michael Haydn viesse a compor.

fugato. Movimento escrito em estilo imitativo semelhante à fuga, mas mais leve e menos sujeito a regras.

Getreidegasse. [Rua Getreide]. Em português, aproximadamente, “Rua dos grãos”. Rua central de Salzburg. No atual número 9, num dos apartamentos pertencentes a Lorenz Hagenauer, nasceram os filhos de Leopold e Annamaria e ali todos viveram até a mudança, em 1773, para a Praça Aníbal. Hoje é o museu mais concorrido de Salzburg, e que leva o nome de Mozartsgebursthaus, ou “Casa do Nascimento de Mozart”. Caso a procure, não se engane: no piso térreo funciona um supermercado; a porta de entrada do museu fica à esquerda do supermercado. A Getreidegasse é a mais turística de toda Salzburg, com preços que condizem com sua fama.

Gloria. Latim. Em português, “glória”. V. missa.

Gradus ad Parnassum. Latim. [Literalmente, em português, “Passos para o Parnaso”]. Livro primordial que ensina a técnica do contraponto, de autoria de Johann Joseph Fux, publicado em 1725. “Bíblia” na casa dos Mozarts e de todos os músicos essenciais do período, como Joseph Haydn e, depois, Beethoven. Sua importância chega até hoje.

Gulden. [ou Florim] Moeda circulante na Áustria na época desta novela. Dividia-se em 60 Keutzers. Em 2023, cada Gulden valeria, aproximadamente, €10.

harmonia. V. harmonizar.

harmônica de vidro. Instrumento que consiste em vários copos musicais, inventado por Benjamin Franklin em 1761 e logo expandido pela Europa. Trata-se de uma fileira de taças de vidro adaptadas umas às outras concentricamente num eixo horizontal, o qual é girado com um pedal. As taças são friccionadas pelos dedos do executante. Foi grande sucesso no período desta novela. W. A. Mozart escreveu duas peças para este instrumento. Hoje é raridade, mas há quem a toque, e bem. Já a vi na Europa em apresentações de rua, e os transeuntes perguntavam ao executante se ele havia inventado aquela curiosidade.   

harmonizar, harmonização. Na acepção do primeiro termo, significa escrever os acordes que acompanham a linha melódica segundo regras específicas, ainda obedecidas no período da novela. Daí que soou rara aos ouvidos de Leopold a dissonância escrita por W. A. Mozart para um dos quartetos apresentados em homenagem a Joseph Haydn.

harpa. Instrumento musical de cordas dedilhadas. No contexto desta novela, vê-se que W. A. Mozart usou-a, em dupla com a flauta transversa, para compor um concerto na sua segunda e trágica estada em Paris.

Idomeneo, re di Creta. Em português, “Idomeneu, rei de Creta”. Ópera de W. A. Mozart em 3 atos. Libreto do problemático abade de Salzburg Giambattista Varesco. A primeira récita aconteceu em Munique, no teatro da corte de Eleitor Carl Theodor, em 1781. Esse príncipe, assistindo a um dos ensaios da ópera, comentou, impressionado: “Quem poderia acreditar que tantas coisas grandiosas possam ficar escondidas numa cabeça tão pequena?” Idomeneo marca, também, o fim da atividade pessoal de Leopold na orientação e supervisão do trabalho de seu filho.

instrumentos de madeira. V. Instrumentos de sopro. Ou, simplesmente, “madeiras”. Como o nome diz, são instrumentos de sopro que originalmente eram confeccionados em madeira, como a flauta transversa, oboé, clarinete, corno-inglês, fagote, contrafagote etc. Alguns permaneceram até hoje feitos em madeira, mas alguns passaram a ser fabricados em metal, como a flauta transversa, e mesmo assim, seguem considerados como “madeiras”.

instrumentos de metal. V. Instrumentos de sopro. Ou, simplesmente, “metais”. Como o nome diz, são instrumentos de sopro confeccionados em metal, como a trompa [W. A. Mozart escreveu 4 adoráveis concertos para trompa], o trombone, trompete.

Instrumentos de cordas dedilhadas. Harpa, cítara.

Instrumentos de cordas percutidas. Forte-piano, cravo, clavicórdio.

Instrumentos de corda e arco. Ou, simplesmente, “cordas”: violino, viola, violoncelo e contrabaixo.   Constituíam a base da orquestra no período dos Mozarts.

Instrumentos de sopro. Uma classificação que abrange os instrumentos de metal e de madeira. Inclui-se aqui, também, o órgão.

Sem verbetes.

Kapellhaus. Alemão. Em português, “Casa da Capela” – Uma instituição eclesiástica que abrigava os meninos do coro da Catedral e, posteriormente, as escolas de jovens instrumentistas, em que Leopold e seu filho davam aula. Bem próxima da própria Catedral, em frente à Igreja dos Franciscanos. No mesmo prédio, renovado em 2006, hoje funciona uma impecável pousada para estudantes com o mesmo nome.

Konzertmeister. Em português, “Mestre de Concerto”. Na época, designava o posto hoje ocupado pelo spalla ou concertino, isto é, o primeiro músico do naipe dos violinos, responsável pela afinação da orquestra e execução de solos; na ausência do maestro, pode substituí-lo.

laudes. Latim. Por inteiro: Laudes Matutinas, literalmente “Louvores Matutinos”]. Uma das “horas canônicas”, em que são rezadas orações nos conventos e mosteiros. “Laudes” vem depois das “Matinas”, as quais são rezadas em plena madrugada, à luz de velas.

libretista.  Autor de um libreto.

libreto. Do italiano libretto, isto é, “livrinho”. Poema narrativo que serve de texto para uma ópera. Por vezes eram preexistentes, e o compositor escrevia-lhes a música; em outros casos, o libreto resultava de uma colaboração entre o compositor e o poeta, o que gerava intermináveis conflitos.  

Leitura de primeira vista. Refere-se a uma habilidade que possui o bom instrumentista ou intérprete vocal: colocada uma música desconhecida à sua frente, ele é capaz de executá-la do início ao fim, com interpretação e sem erros. Consta de todas as provas de admissão a uma orquestra e, não por nada, é um dos maiores desafios. Já vi muitos musicistas perderem-se nessa etapa da prova.

linha melódica. V. melodia.

litania. Latim. Em português, “ladainha”. Antiga oração da igreja católica romana, que consiste em uma série de laudações, sendo as principais à Virgem Maria ou a de Todos os Santos. Poderia ser cantada com acompanhamento de orquestra, e assim, a parte musical passou a interessar os musicólogos. Como pode se tornar monótona, os compositores devem esmerar-se em realizar variantes que lhes deem maior atrativo.

Lucio Silla. Ópera em 3 atos, de W. A. Mozart, de temática romana. Estreou em 1772 no Teatro Regio Ducale, com libreto de Giovanni Gamerra. Foi encomendada em função do sucesso, dois anos antes, de Mitridate, re di Ponto.

melodia. Sequência de sons musicais, obedecendo a certa ordem e padrão. Está popularmente ligada à ideia de beleza que gera prazer a quem a escuta. No domínio da música, talvez seja a palavra com maior número de acepções e, por isso, será melhor confiar na experiência do leitor, que sabe, desde sempre, o que é uma melodia.

Mehlgrube. Em português: “mercado da farinha”. Antigo prédio de Viena, construído em 1697 no Neuer Markt com projeto de Johann Bernhard Fischer von Erlach. O mesmo arquiteto construiu 5 igrejas em Salzburg, e, dentre estas, a igreja da Trindade e a igreja do Colégio, que, por empenho de Leopold, receberam algumas das obras iniciais de W. A. Mozart. O Mehlgrube, que teve várias destinações, possuía um salão de baile no primeiro andar, o qual, em 1781, justo quando W. A. Mozart se mudava para Viena, transformou-se em sala de concertos. O prédio foi parcialmente destruído por bombas dos aliados em 1945 e, depois de sua reconstrução, e fortes adaptações, transformou-se no luxuoso hotel Ambassador.

melopeia. Peça simples, escrita para acompanhar uma recitação. Pode significar a própria recitação.

Método de violino. Tradução livre e sintética de Versuch einer gründlichen Violinschule. Literalmente: “Ensaio para um método minucioso de aprendizagem de violino”. Obra de Leopold publicada em Augsburg, sua cidade natal, em 1756, o mesmo ano do nascimento de W. A. Mozart. Trata-se de relevante obra de ensino de violino, que serviu a gerações e até hoje é respeitada. Bastante pessoal, não apenas ensina, mas a cada linha revela as idiossincrasias de seu autor, do qual se pode até sentir a respiração nas entrelinhas.

mestre de capela. Em alemão, “Kapellmeister”. Quase todas as cortes europeias, em especial as mais ricas, possuíam agrupamentos de instrumentistas, os quais se encarregavam de animar a vida musical, atuando na igreja, em bailes e na promoção de concertos. Esse conjunto era chamado de “capela” [Kapell, em alemão]. A capela arquiepiscopal de Salzburg não fugia à regra, possuindo seu mestre e vice-mestre. Este último era o cargo de Leopold, do qual nunca foi promovido. No Brasil, a instituição permaneceu: o compositor José Maurício Nunes Garcia foi mestre de capela da corte real de D. João VI.

mínima. V. notação.

minueto. Antigamente, uma peça composta por Lulli para ser dançada na corte de Luís XVI; logo espalhou-se pela Europa. No século XVIII estava já incluído como um movimento da sinfonia, em geral o terceiro.

Mirabell.  Palácio de verão na margem direita do Salzach, outrora pertencente ao Arcebispado. Atualmente ali são realizados concertos turísticos e funcionam algumas repartições públicas da prefeitura de Salzburg. O conjunto do palácio e seus jardins, tendo como fundo a fortaleza, funciona como cartão-postal da cidade, especialmente depois do filme de Robert Wise de 1965, “Sound of Music” [no Brasil, estranhamente, “A noviça rebelde”].

Mitridate re di Ponto. Em português, Mitrídates, rei do Ponto, ópera de W. A. Mozart, em 3 atos. Estreou em 1770 no Teatro Regio Ducale de Milão, com libreto de Vittorio Amedeo Cigna-Santi a partir de um texto de Racine. Constituiu-se no primeiro grande sucesso operístico italiano do jovem Mozart, o que levou o Teatro a encomendar-lhe nova ópera, a qual foi Lucio Silla, estreada 2 anos depois.

Miserere. Palavra inicial do Salmo 51 (50), Miserere mei Deus. Latim. Em português, “Tem compaixão de mim, Deus”. Muitos compositores o colocaram em música, sendo que o mais notório foi Gregorio Allegri [1582-1652], cuja versão, um precioso moteto, até hoje é cantada nas cerimônias do Vaticano.  

missa. Ofício da Eucaristia no rito da Igreja Católica Romana. No contexto desta novela, é uma composição musical escrita para acompanhar essa celebração, e se divide nas partes Kyrie, Gloria, Credo, Sanctus, Benedictus e Agnus Dei. Qualquer bom músico do período escrevia missas, na maior parte por dever de seus empregos. De início bastante longas, sob o domínio do impaciente Von Colloredo tornaram-se obrigatoriamente curtas.  

modulação. Passagem de um tom para outro no decorrer de uma música. Há técnicas para isso. Wolfgang, em sua mais adiantada vida, surpreendia com modulações próprias e inovadoras; ao escutá-las, seu ouvinte era capaz de exclamar: “Isto é Mozart!”

moteto. Antiga oração da igreja católica romana, cantada, usando textos bíblicos; chegou até o século XVIII, recebendo incorporação de orquestra e solistas. O mais belo e célebre moteto de W. A. Mozart é Exultate, jubilate, desafio para sopranos que, por vezes, o utilizam para exibir sua virtuosidade.

motivo. Pequeno grupo de sons do qual se desenvolve uma frase musical.  

movimento. Cada uma das partes em que se divide um concerto, uma sinfonia, uma sonata e outras peças constituídas por uma sucessão de músicas, como a serenata.

música final. Em alemão, “Finalmusik”. Era um gênero peculiar de Salzburg, executada em agosto pelos estudantes da universidade para agradecer seus professores.

notação. Refere-se ao modo de expressar a música de modo gráfico. Deixarei de lado sua longa história e múltiplas acepções, fixando-me apenas naquilo que importa a esta novela, qual seja, a duração das notas musicais [“figuras de ritmo”]. Modernamente, usam-se, desde a mais longa até a mais curta: breve, semibreve, mínima, semínima, fusa e semifusa. Nesta novela, consta, em certo ponto, “semínima pontuada”, significando que esse ponto acrescenta um tempo à nota.

Nozze di Figaro, Le. Italiano. Em português, “As bodas de Fígaro”. Estreou no Burtheater de Viena em 1786, ano posterior à visita de Leopold a Viena.  Leopold viveu para conhecer esse sucesso, o que relata numa carta a sua filha.   

oboé. Instrumento de sopro, feito em madeira, com tubo cônico e palheta dupla, com chaves e manilhas.

oitava. Intervalo de oito graus musicais. Na linguagem leiga, aplicada a instrumentos de teclado, não é raro que se use a expressão “escala”. Assim, o famoso forte-piano que W. A. Mozart usava em Viena, objeto de espanto de Leopold, tinha a extensão de cinco “escalas”, mais ou menos do tamanho dos sintetizadores atuais, com 61 teclas.

ópera alemã. Mais do que significar uma ópera com libreto em língua alemã, significou uma oposição à ópera italiana, então dominante nas cortes do século 18, por força dos inúmeros músicos peninsulares, como se percebe nesta novela. O evento mais emblemático do surgimento dessa tendência foi a representação da ópera Alceste, de Anton Schweitzer, com libreto de Wieland – o mesmo autor do livro que encantava Leopold, A simpatia das almas – e que estreou em 1773 em Weimar. Foi saudada como um modelo para a ópera alemã, gerando consequências, como O rapto do serralho. Nem sempre os assuntos eram alemães mas, sim, a língua, e mais: os textos entre as árias eram falados, recuperando, assim, a tradição de uma forma de espetáculo popular muito caro na Alemanha, de caráter humorístico.  

Oragna figatafa. Palavras sem sentido, proveniente de uma brincadeira linguística privada do menino Wolferl com seu pai; ao que se pode deduzir de uma carta, era a improvisada letra de uma melodia hoje ignorada.  

órgão. Instrumento musical em que o ar passa por tubos que seguem o comando de um teclado. Próprio de igrejas e hoje também, das grandes salas de concerto. Na época, eram acionados por foles movimentados manualmente ou com os pés de pessoas de boa vontade ou pagas para isso; hoje, isso é realizado eletricamente. W. A. Mozart desde muito pequeno tocava órgão em igrejas de Salzburg, especialmente na Catedral.

ornamento. Nota ou grupo de notas que embelezam uma melodia. Leopold era muito sóbrio quando ao uso dos ornamentos que, na época, começavam a ser espalhafatosos. No seu Método de violino ele escreve, depois de ensinar todos os ornamentos: [Parte 12, §22]: “Alle diese Auszierung braucht man aber nur, wenn man in Solo spielt, und dort sehr mäßig, […]”, ou, em tradução livre: “Todos esses ornamentos só devem ser usados em solos, e muito moderadamente […]”. A marca do homem austero e de bom-gosto está aí.

orquestra. Agrupamento de músicos que tocam seus instrumentos, em geral sob o comando de um maestro. Acostumados que estamos às grandes orquestras sinfônicas, com mais de uma centena de músicos no palco, é difícil entender que este é um fenômeno recente, que vem da segunda metade do século 19. As orquestras do tempo dos Mozartz eram pequenas para nossos padrões, e poucas tinham um mantenedor rico o suficiente para ampliá-las. Assim, a Capela Arquiepiscopal de Salzburg era constituída por apenas 8 violinistas, 2 violistas, 2 violoncelistas, 2 contrabaixistas e 4 fagotistas, dos quais alguns igualmente tocavam oboé e flauta. Havia também trompetistas e timpanistas em número variável, segundo a composição a ser executada. Já o coro era em número superior à orquestra. Podemos dizer, sem errar muito, que, num dia de apresentação, haveria pouco mais de 20 músicos tocando. A grande orquestra de Mannheim, assim era uma absoluta exceção, e então entendemos seu prestígio perante Leopold. Daí que constitui um grave equívoco executar, em concertos atuais, obras de Leopold ou de W. A. Mozart com orquestras que mal cabem no palco.   

orquestrador, orquestração, orquestrar. Termos que se ligam, sendo que o substantivo “orquestração” [ou “instrumentação”] designa a técnica de agrupar as partes de uma música a ser executada por um agrupamento [orquestra, no geral], daí resultando a partitura.   

partitura. Conjunto gráfico em que são agrupadas todas as melodias componentes da música, distribuídas por diferentes instrumentos. Isso possibilita que, num golpe de vista, o músico [o maestro e o compositor, principalmente] possa acompanhar a execução completa da música. As partituras originais de W. A. Mozart foram escritas com urgência e, por isso, precisam de musicólogos experientes que consigam estabelecer sua forma definitiva para a impressão.

passeio de trenó, O. Obra de Leopold Mozart. V. Sinfonia dos Brinquedos

peça. Simplificação de “peça musical”. Designação pouco específica, que significa qualquer música ou parte dela, embora, na maioria das vezes, indique uma música isolada, de curta duração.

piano. Italiano. Além de significar o instrumento musical moderno que leva esse nome na língua portuguesa, o termo significa, no contexto desta novela, a indicação de que uma passagem deve ser executada com som fraco, suave, com pouca intensidade.

prima donna. Italiano. Em português “primeira mulher”. Cantora que, num teatro é designada a representar o papel central das óperas que exigem protagonista feminina.   

quarteto.  No contexto em que é citado nesta novela, o quarteto significa música escrita para quatro instrumentos de corda [primeiro-violino, segundo-violino, viola e violoncelo] que assim formam um conjunto. Adquiriu sua forma definitiva pelo grande prestígio que lhe deu Joseph Haydn, que o consolidou como a forma ideal para os salões, tendo escrito mais de 80 peças dessa natureza.

quarteto para flauta. No caso, trata-se de uma peça a ser executada por quatro instrumentos, em que a flauta substitui um dos violinos, fazendo as vezes de solista. W.A. Mozart e seus contemporâneos escreveram quartetos com inclusão de outros instrumentos, como cravo, forte-piano, clarinete, flauta etc.

Rapto do serralho, O. No original, Die Entführung aus dem Serail. Ópera de W. A. Mozart estreada com grande sucesso em 1782 no Burgtheater de Viena. A partir daí, a situação de Mozart melhorou financeiramente e em prestígio social.

redução.  Transcrição de uma música – escrita originalmente para vários instrumentos ou vozes – para menos instrumentos ou, no contexto da novela, para um instrumento de teclado. Desse modo, o ouvinte pode escutar uma sinfonia inteira, ou um concerto, executado por um único músico. Essas reduções eram muito facilitadoras para a difusão do gosto, pois possibilitavam o conhecimento doméstico de grandes peças orquestrais. Por vezes, a redução era apenas da parte do acompanhamento de peças para solista.

récita. Qualquer espetáculo musical, especialmente quando pertence a uma série de apresentações do mesmo programa. Assim, quanto maior o número de récitas, maior era o sucesso.   

réquiem. Em latim, requiem, “descanso”. Missa de mortos. Trata-se de uma missa comum, com algumas transformações e acréscimos decorrentes de sua finalidade. O mais célebre réquiem é o de W. A. Mozart, escrito no último ano de sua vida e deixado sem concluir. Seus primeiros e fúnebres compassos, bem como o Lacrimosa são expostos e repetidos em excesso pela mídia após o filme “Amadeus”, de Milos Forman.

Residenz. Em português, “residência”. O palácio de residência do príncipe-arcebispo de Salzburg.

ritmo. Sequência de sons longos e curtos, em alternação periódica.

rondó. Forma musical que, por princípio, é encontrado em movimentos finais de uma sonata, de uma sinfonia ou de um concerto. Consiste num refrão musical alternado por episódios sempre diferentes entre si.

Romantismo. Formalmente, uma tendência cultural e artística iniciada no século 18 e logo dominante; muitos o contam a partir da publicação da novela Os sofrimentos do jovem Werther [1774], de J. W. von Goethe [1749-1832], dentro do espírito do Sturm und Drang [literalmente Tempestade e ímpeto]. Dada a natureza específica deste glossário, limito-me a dizer que o leitor perceberá que a novela abrange, em cheio, o momento de transição para os inícios do Romantismo, com as perturbações contraditórias nas mentes, em especial a de Leopold, e que vacilavam em adotá-lo. 

romanze. Italiano. Em português, “romança”. Composição originalmente para canto, de caráter simples, até lírico, logo passou também para a composição instrumental. No período da novela, primórdios do Romantismo, usava-se a expressão para movimentos lentos de sinfonias e sonatas, ou mesmo para peças isoladas.

salva me, salva me. V. réquiem. [Tradução: “Salva-me, salva-me”]. Um momento dessa peça musical.

scherzo. V. andamento.

semifusa. V. notação.

serenata. Em alemão, Serenade ou Nachtmusik. Forma musical bastante praticada por W. A. Mozart e seus contemporâneos. A princípio, significava um presente musical, executado ao ar livre à noite, para agradar a uma pessoa amada ou a alguém de alta posição social; depois também migrou para os salões, com diversas formas. A obra mais “popular” de W. A. Mozart é desse gênero: Eine kleine Nachtmusik [Uma pequena serenata]. É absolutamente bela; mas, para que nossos ouvidos não a banalizem pela superexposição midiática, bom é tentar escutá-la como se fosse pela primeira vez. Difícil, mas não impossível.

sinfonia. Depois de várias concepções, no período de Leopold a sinfonia se consolidava como uma forma musical a ser executada por uma orquestra, e se dividia, quase sempre, em quatro movimentos: um allegro, um andante, um minueto e um presto [rápido].

Sinfonia dos brinquedos (O passeio de trenó; A caçada, O casamento no campo). Peças musicais de Leopold, descritivas ou narrativas, cujos assuntos estão contidos nos próprios títulos. A “Sinfonia dos Brinquedos”, a mais executada nas salas de concerto, foi até bem pouco atribuída a Joseph Haydn, mas pesquisas do século XX fixaram-lhe a devida autoria. São obras encantadoras, como todas do gênero, mas não se procure profundidade dramática – e nem sei se Leopold desejava esse efeito.

staccato. Em tradução literal, “destacado”. É um modo de tocar ou cantar em que as notas soam nitidamente separadas umas das outras. Com isso, perdem parte de suas durações. A indicação gráfica do staccato, nas partituras originais de W. A. Mozart, são bastante variáveis, devido à pressa de sua composição; nas modernas edições de partituras, o staccato aparece como um ponto sobre ou sob a nota. Leopold trata desse assunto em seu Método de violino, especialmente na Parte VII, quando ensina como produzir essas notas com o arco do violino.

Teatro Nacional Alemão. V. Burgtheater.

teclado. “Klavier” em alemão, e, às vezes, “Clavier”. Uma palavra genérica que designava, até o século XVIII, instrumentos como o clavicórdio, o cravo, o forte-piano e o órgão. Isso não impedia que alguns autores, em certos casos, especificassem para qual instrumento de teclado fora escrita sua composição. Já no final do século citado, o termo “Klavier” passou a referir-se mais propriamente ao clavicórdio. No contexto desta novela, espero que isso fique esclarecido na sucessão do enredo.

tema. Melodia que define uma composição, e se encontra normalmente no início desta, servindo de base para a estrutura da obra. Sonatas, sinfonias e concertos do período possuíam dois temas que dialogavam no primeiro movimento.

tímpano. Instrumento de percussão que pode ser afinado. As orquestras possuem dois ou mais de dois, daí que sempre são declinados no plural, “tímpanos’, ou, em italiano, timpani. Compõe-se de uma caixa acústica semiesférica de cobre, e, na época, coberta por uma pele de animal. O som é produzido por baquetas.

tom maior. No entendimento de Leopold, confirmada por musicólogos, era o tom mais usado por Wolfgang, o que, ao que parece, não desagradava o pai, pelo brilho e alegria que normalmente confere às músicas.

tom menor. Para evitar uma complexa definição técnica, o contexto nos leva a uma música que usa um modo menor, que assume uma conotação lúgubre, ou dolorosa, às vezes sonhadora. 

tonalidade. Tal como outros termos musicais, “tonalidade” é de difícil definição para leigos, embora encontremos definições como “o modo como se dispõe a escala dentro de uma oitava”. Tal como está referida por Leopold, “sombria” entenda-se como índole humana, modo de ser, temperamento humano.

trinado. Ornamento musical [“floreio”]. Repetição alternada de dois sons vizinhos, tanto em instrumentos como com a voz humana. Foi um dos ornamentos mais usados no período desta novela. No seu Método de violino, Leopold dedicou-lhe vários parágrafos distribuídos na Parte 10, sendo bastante rígido nas instruções aos alunos/iniciantes. Se no seu livro ele já é tão severo, podemos imaginá-lo nas aulas presenciais.

trio. No contexto em que é citado nesta novela, o trio significa música escrita para três instrumentos que formam um conjunto. O mais praticado, na época, era o piano-trio, formado por forte-piano, violino e violoncelo. Também foi de largo uso o trio de cordas, formado por violino, viola e violoncelo.

trombone. Instrumento de sopro, em metal, e sua mais notável e angustiosa presença será no réquiem de W. A. Mozart, ao conclamar os mortos a saírem de suas tumbas.

Sem verbetes.

Violino. Instrumento de corda e arco, o mais agudo desses. Constitui-se na base de qualquer orquestra, e, na época dos Mozarts era dos primeiros a serem aprendidos pelo estudante de música, junto com o clavicórdio.

variação. Forma musical em que se executa uma melodia bem simples [chamada de “tema] e, logo a seguir, a mesma melodia é repetidas vezes, mas de maneira diferente, sem que o ouvinte deixe de reconhecê-la. Wolfgang era mestre nisso, espantando a quantidade e excelência das variações que improvisava a partir de um tema que alguém lhe propusesse. Por vezes, mandava imprimir, como foi o caso das “Variações sobre [a canção popular] “Ah! vous dirai-je, maman” [Literalmente: Ah! eu te diria, mamãe]. No Brasil, é célebre como a música da canção infantil “Brilha, brilha, estrelinha”.  

vibrato. Embora sempre referido em italiano, em português seria “vibrado”. Ligeira flutuação da altura imposta a uma nota longa, visando deixá-la mais expressiva. Em geral refere-se aos instrumentos de corda, mas igualmente acontece no canto. Leopold, em seu Método de violino, trata do vibrato em alguns momentos da Parte II, na qual explica diferentes técnicas que implicam a postura do violinista perante o instrumento.  

viola. Instrumento de corda e arco, maior que o violino e menor que o violoncelo. A afinação de suas cordas é a mesma do violoncelo. Era o instrumento de cordas preferido de Wolfgang, que quase sempre se oferecia para tocá-la em pequenos agrupamentos musicais e mesmo na capela arquiepiscopal de Salzburg.

violoncelo. Instrumento de corda e arco, mais grave que a viola e mais agudo que o contrabaixo. Suas cordas têm a mesma afinação da viola, isto é, Dó-Sol-Ré-Lá. O autor desta novela, violoncelista, lamenta que nem W. A. Mozart nem Leopold tenham escrito um concerto para este cálido instrumento, que tanto se aproxima da voz humana.

Sem verbetes.

Sem verbetes.

Sem verbetes.

Sem verbetes.

por Rafael Godoi (compositor)

Allegri, Gregorio. [1582 – 1652]. Foi um compositor e cantor italiano do período barroco, nascido em Roma. Serviu como mestre de coro na Basílica de São Pedro durante a maior parte de sua vida profissional, tendo também ocupado cargos na Capela Sistina. Allegri é mais conhecido por sua obra-prima, o Miserere mei, Deus, uma composição para coro que foi executada exclusivamente na Capela Sistina durante a Semana Santa. A obra era tão valiosa que sua partitura foi mantida em segredo por muitos anos, e a cópia só podia ser obtida diretamente da Capela Sistina. Allegri faleceu em Roma.

“Annamaria”. [1720 – 1778]. Por vezes, seu nome é grafado como “Maria Anna”. No registro de batismo em St. Gilgen consta como Anna Maria e depois, no registro de casamento com Leopold, como Maria Anna. Isso não deixa de provocar confusões, inclusive em obras de nosso tempo e referências na Internet. Pouco sabemos a seu respeito e, quando isso acontece, limita-se às menções que Leopold faz a ela em suas cartas a Hagenauer durante o Grand Tour e, ainda, quando estava fora de Salzburg: na Itália, em Viena etc. Ela própria escreve ao marido durante a viagem da Paris, cartas simples e quase sempre referentes ao cotidiano, em que não evitava queixar-se. Sua linguagem revela deficiente formação, plenamente explicável pelas más circunstâncias de sua infância e juventude. Quanto à natureza de suas relações com os familiares, Leopold invariavelmente usa o vocativo “minha querida esposa”, e nisso foi além do que se esperaria da diplomacia conjugal: ele ficou inconsolável com sua morte. O jovem W. A. Mozart e Nannerl sempre a trataram com respeito, dedicando-lhe o lugar merecido. Podemos dizer que a família tinha carinho por ela; essa ideia se reforça pelo célebre quadro pintado por Della Croce, a pedido de Leopold, em que Anna Maria, na altura já falecida, aparece numa efígie oval. Seu olhar é atento e protetor.   

Antretter.  Família de pequena nobreza de Salzburg e amiga dos Mozarts. Para Judas Thaddäus von Antretter, W. A. Mozat escreveu uma serenata a título de música final, [1773], que viria a ser uma das suas composições mais conhecidas.

Bach, Carl Philipp Emanuel. [1714 – 1788]. Compositor alemão do período barroco tardio e clássico inicial, nasceu em Weimar, Alemanha, sendo o segundo filho de Johann Sebastian Bach. Fez seus estudos com seu pai, figura que sempre admirou e ressaltou sua influência. C. P. E. Bach trabalhou como músico da corte em Berlim e em Hamburgo, onde se tornou o maestro da orquestra da cidade em 1768. É conhecido por suas sonatas para teclado, concertos para instrumentos de sopro e cordas, e suas obras para órgão, para além de ter desenvolvido uma estética própria que apontou para o estilo clássico que seria consagrado até o fim do século XVIII. Faleceu em Hamburgo, aos 74 anos.

Bach, Johann Christian. [1735 – 1782]. V. “Bach Inglês”

Bach, Johann Sebastian. [1685 – 1750]. No contexto desta novela, às vezes chamado de “o velho Bach”. Figura central da história da música, proveniente de uma família de músicos e ele próprio pai de vários músicos, dentre os quais Johann Christian, o Bach Inglês, relevante para a formação de W. A. Mozart. Trabalhou como organista e músico da corte em várias cidades alemãs, incluindo Weimar, Köthen e Leipzig. Esta última foi sua residência até sua morte, tendo ocupado o cargo de mestre de capela da igreja de São Tomás. 

“Bach Inglês”. Assim era chamado informalmente, nos círculos musicais, Johan Christian Bach [1735 – 1782], último filho do mestre Johann Sebastian Bach [o “velho Bach”]. A alcunha de Johann Cristian derivou do fato de haver-se mudado para Londres em 1762, a convite da corte inglesa. Sua influência sobre o menino W. A. Mozart, ensinando-lhe técnicas que se incorporariam definitivamente à bagagem musical de Wolfgang.

“Bäsle”. “Priminha”. Maria Anna Thekla Mozart, filha de um irmão de Leopold [1758 – 1841]. Conheceu Wolfgang em Augsburg. Seu relacionamento foi certamente íntimo, pelo teor das dez cartas que escreveu à prima, cheias de alusões escatológicas, pornográficas e libertinas, inclusive com desenhos. É possível dizer que era bonita, inteligente, ilustrada, brilhante na conversação. Seu destino, depois do término da relação com Wolferl, foi mais obscuro: teve uma filha com o cônego Dr. Theodor Franz de Paula Maria, barão Von Reibeld, que assumiu a paternidade. Permaneceu sempre solteira. Os últimos 27 anos de sua vida viveu em Bayreuth, ali morrendo aos 82 anos. No cemitério local há uma ornamentada placa em bronze que a homenageia. Não procure pela localização de seu túmulo: é desconhecido. Pelo que prezava de sua liberdade, inclusive a amorosa, pode ser considerada uma mulher que antecipava o espírito do atual século.

Buxtehude, Dieterich. [1637/39 – 1707]. Compositor, organista e violinista alemão, nascido provavelmente em 1637 ou 1639 em Helsingborg, na atual Suécia, e falecido em 1707 em Lübeck, Alemanha. É conhecido por suas obras sacras, em especial as cantatas e oratórios. Sua fama como músico levou Johann Sebastian Bach a caminhar cerca de 400 km para assisti-lo tocar o órgão em Lübeck. Buxtehude trabalhou a maior parte de sua vida na catedral de Lübeck, onde foi organista e compositor principal.

Cannabich, Christian. [1731 – 1798]. Nasceu na cidade de Mannhein. Durante sua vida se tornou um importante compositor e maestro alemão do período clássico. Estudou com Johann Stamitz e, mais tarde, trabalhou na corte de Mannheim, onde se tornou o maestro da orquestra em 1762. Cannabich é conhecido por suas sinfonias, concertos para instrumentos de sopro e música de câmara. Também compôs óperas e música sacra. Cannabich foi um dos principais representantes da Escola de Mannheim, conhecida por suas inovações orquestrais e técnicas de composição. Faleceu no ano de 1798 na cidade de Frankfurt.

Colloredo, Conde Hieronymus von. [1732 – 1812]. Príncipe-Arcebispo de Salzburg a contar de 1772. Passou à História, merecidamente, como o patrão cruel e nêmesis dos Mozarts. De temperamento irascível, autoritário, culto e refinado, tentava conciliar o pensamento iluminista com a férrea administração financeira e política de seu principado eclesiástico. Repousa solidamente na eternidade em seu túmulo na cripta da Catedral, em posição superior, de modo que temos de erguer a cabeça para contemplá-lo.

Constanze. [1762 – 1842]. Na época central da novela, esposa de W. A. Mozart. Foi uma das quatro irmãs Weber, cantoras, e que W. A. Mozart conheceu em Mannheim. O casal teve seis filhos: Raimund Leopold [1783], Carl Thomas [1784-1858], Johann Thomas Leopold [1786], Theresia  Constanzia Adelheid Friederike Maria Anna [1787-1788], Anna Maria [1789] e Franz Xaver Wolfgang Mozart [1791-1844]. Leopold conheceu apenas o neto Carl Thomas. Só dois atingiram a idade adulta: Carl Thomas e Franz Xaver.  Viúva, Constanze casou-se com Georg Nikolaus Nissen – dedicado pesquisador e preservador da memória de W. A. Mozart – e faleceu em Salzburg, a tempo de ver construído e inaugurado o monumento que se encontra na Mozartplatz, em Salzburg, dedicado a seu marido.

Sem verbetes. 

Eckard, Johann Gottfried . [1735 – 1809]. Johann Eckard foi um compositor e pianista alemão do período clássico. Nasceu em Augsburg, no território germânico, e ainda jovem mudou-se para Paris, cidade na qual se consagrou e viveu até o fim de sua vida. Ele passou a maior parte de sua carreira como organista e diretor musical em várias igrejas na Alemanha, incluindo a Catedral de Erfurt. Eckard compôs uma grande quantidade de música sacra, incluindo missas, oratórios e cantatas, além de música para teclado e de câmara. Ele era conhecido por sua habilidade como organista e improvisador. Eckard era casado e teve quatro filhos, dois dos quais se tornaram músicos.

Fux, Johann Joseph . [1660 – 1741] Fux foi um compositor, teórico musical e professor austríaco, nascido na cidade de Hirtenfeld. Ainda jovem vai para Graz iniciar seus estudos musicais, estabelecendo-se mais tarde em Viena, trabalhando para a corte de Leopoldo I. É mais conhecido por sua obra Gradus ad Parnassum, um tratado de contraponto que teve grande influência na educação musical do século XVIII, sendo citado por grandes compositores como Haydn, Mozart e Beethoven.

Gatti, Luigi. [1740 – 1817]. Violinista e compositor italiano, Luigi Gatti nasceu em Lazise, Itália. Em 1780, Gatti se estabelece em Salzburgo assumindo o cargo de Mestre de Capela, decisão que contrariou Leopold Mozart. Compôs várias óperas, música sacra e música de câmara. 

Gluck, Christoph Willibald . [1714 – 1787]. Christoph Gluck nasceu em Erasbach, Alemanha, e durante sua vida se tornou um importante compositor conhecido por suas reformas na ópera. Ainda adolescente, se muda para Praga, onde estuda e pratica música. Suas primeiras óperas foram escritas no estilo barroco, mas ele se tornou famoso por sua trilogia de óperas reformistas: Orfeo ed Euridice, Alceste e Iphigénie en Aulide. Gluck tentou simplificar a ópera, dando mais importância à expressão emocional e ao texto, em vez da virtuosidade vocal. Além de suas óperas, Gluck também escreveu música sacra e instrumental, incluindo sinfonias e concertos. Estabelecido em Viena, Gluck viveu e trabalhou ali até sua morte.

Händel, Georg Friedrich. [1685 – 1759]. Compositor alemão nascido em Halle, Alemanha, faleceu em Londres, Inglaterra, cidade que o acolheu e o naturalizou. Foi um dos maiores compositores do período Barroco, conhecido por suas óperas, oratórios e música instrumental. Algumas de suas composições mais famosas incluem o Messias, Water Music e Music for the Royal Fireworks. A partir do ano de 1710, Händel inicia suas viagens à Inglaterra, mudando-se definitivamente no ano de 1713. Assim, passou a maior parte de sua carreira na Inglaterra, onde se tornou um cidadão britânico e se estabeleceu como um dos compositores mais respeitados do país.

Haydn, Joseph. [1732 – 1809]. Compositor que dominou por décadas a cena musical austríaca e vienense, sendo aclamado como o maior de seu tempo. Haydn passou praticamente toda sua carreira ocupando cargos de mestre de capela para importantes famílias do Império Austríaco. Sendo um compositor muito prolífico, escreveu muito. Autor de mais de 100 sinfonias, é lembrado como aquele que desenvolveu e consolidou o quarteto de cordas, além de inúmeras Sonatas para piano e mais um vasto catálogo de outras obras. Destacam-se sinfonias como a de nº 45, conhecida como Sinfonia do Adeus e a Sinfonia de nº 100, conhecida como Sinfonia Militar. Haydn foi um compositor longevo e faleceu em Viena em 1932, aos 77 anos.

Haydn, Michael. [1737 – 1806]. Nesta novela, chamado de “Michael H.”. [1737-1806]. Irmão mais novo do antecedente. Viveu a maior parte da vida em Salzburg, onde chegou em 1757, um ano após o nascimento de W.A. Mozart. Trabalhou para a igreja da abadia de São Pedro, como organista e mestre de coro e, ainda, como músico e compositor da Capela Arquiepiscopal. Compositor abundante e de muitos méritos, sua figura une-se aos Mozarts, seja como onipresente  amigo da casa, seja como estimulador e influenciador do jovem W. A. Mozart. Na igreja de São Pedro lhe é dedicado um memorial. Segundo especialistas, seu réquiem, de 1771, dedicado ao arcebispo Sigismund Von Schrattenbach, teve ressonâncias no réquiem de W. A. Mozart. Sua longa existência- para a época – permitiu que acompanhasse a vida de Leopold Mozart a partir 1757 até a morte do amigo. Foi testemunha, tal como Lorenz Hagenauer, de modo presente ou à distância, de toda trajetória de W.A. Mozart, desde criança até que este morreu em 1791. O local de sua casa está situado na subida pedestre para a fortaleza, e os turistas nem se apercebem da placa comemorativa que ali foi posta, pois está em lugar altíssimo.

Hagenauer, Johann Lorenz. [1712 – 1792]. Comerciante em Salzburg, que possuía uma sólida posição social, bem como relações financeiras em vários países. Isso lhe possibilitou ser o verdadeiro benfeitor e banqueiro de Leopold durante o Grand Tour. Ademais, foi locador do apartamento dos Mozarts na rua Getreide. Além dele próprio e sua esposa, Maria Theresia, vários outros membros da família Hagenauer são mencionados na correspondência dos Mozarts, incluindo Ignaz Joachim, que dirigia os negócios da família em Trieste e Kajetan Rupert; este último, em Salzburg, ingressou no mosteiro de São Pedro como frade, onde Michael Haydn era organista. Nessa ocasião, o pré-adolescente W. A. Mozart dedicou-lhe uma de suas missas mais conhecidas, em Dó Maior, a “Dominicus Messe” [K. 66]. Hagenauer teve vida longa, podendo seguir, na distância de Salzburg, a vida de W. A. Mozart em Viena, seu casamento, seu crescente sucesso na capital e, por fim, sua miserável morte.

Holzbauer, Ignaz. [1711 – 1783]. Compositor nascido em Viena, estudou com Johann Joseph Fux e depois trabalhou para a corte de Mannheim. Entre suas principais composições estão as óperas Günther von Schwarzburg e Alessandro nell’Indie. Holzbauer é considerado um dos principais compositores da Escola de Mannheim, conhecida por suas inovações musicais no período clássico. Ele também foi professor de composição na Universidade de Heidelberg.

Sem verbetes. 

Jommelli, Niccolò. [1714 – 1774]. Nascido em 1714 na cidade de Aversa, Itália, foi um compositor do período barroco tardio e clássico. Estudou música em Nápoles e em Bolonha com o Padre Martini, e posteriormente exerceu trabalhos como compositor em Veneza, Roma e Stuttgart. Entre suas principais obras estão óperas como Il Vologeso e Fetonte, além de músicas sacras, como Dixit Dominus. Jommelli foi um importante influenciador da música sacra alemã e foi elogiado por compositores como Gluck e Mozart. Faleceu em Nápoles com seu estado de saúde já fragilizado devido a um derrame três anos antes.

Sem verbetes. 

Lombardini, Maddalena. [1745 – 1818]. Nascida em Veneza, Itália, Maddalena Lombardini Sirmen foi uma violinista e compositora do período clássico. Estudou violino com seu pai antes de se tornar uma das primeiras alunas de Giuseppe Tartini e posteriormente realizou concertos em toda a Europa. No ano de 1770, foi nomeada virtuosa de câmara da imperatriz Maria Teresa da Áustria. Além de suas habilidades como intérprete, ela também compôs várias sonatas para violino e outras obras de música de câmara. Em 1818, faleceu, provavelmente, na cidade de Veneza.

Martinez, Marianne von. [1744 – 1812]. Compositora austríaca nascida em Viena, destacou-se como pianista e cantora durante sua carreira. Filha do diretor de música imperial, estudou com Joseph Haydn e tornou-se uma das principais figuras musicais de Viena no final do século XVIII. Suas composições incluem óperas, cantatas, música de câmara e obras para piano. Foi a primeira mulher a ser admitida na Academia Filarmônica de Bologna, mas, para além de uma excelente carreira como cravista e compositora, nunca assumiu nenhum cargo oficial, devido aos preconceitos da época.

Martini, Giovanni Battista. Padre Martini [1706 – 1784]. Padre, foi historiador da música, musicólogo, professor e compositor. Viveu toda vida em Bolonha. Professor do “Bach Inglês” e, por um breve, mas frutífero período, do jovem W. A. Mozart. Muito do que este aprendeu da técnica da  fuga deve-se a Martini.

Mesmer, Franz Anton. [1734 – 1815]. Médico suábio, viveu em Viena. Foi em vida, e ainda é, extremamente controverso devido a suas teorias pseudocientíficas que se aproximam da parapsicologia e magnetismo animal. Dotado de grande fortuna devido ao casamento, usou-a em experimentos nem sempre bem-sucedidos, inclusive com a pianista Von Paradis. Executante de harmônica de vidro, foi protetor dos Mozarts. De seu nome derivou o substantivo “mesmerismo” e o verbo “mesmerizar”. Penso que hoje faria imenso sucesso.

Mozart, Anna Maria. V. Annamaria

Mozart, Leopold. [1719 – 1787]. Compositor, violinista e pedagogo, Leopold Mozart nasceu na cidade de Augsburg no território germânico, mas logo no início de sua juventude mudou-se para Salzburg, principal morada durante sua vida. Compôs várias obras para instrumentações diversas e escreveu um famoso método de violino, sempre ocupando relevantes cargos musicais para a nobreza ou diocese da cidade de Salzburg. Porém, sua carreira e aspirações mudaram drasticamente quando descobre o imenso talento de seu filho prodígio, Wolfgang. Leopold, assim, dedica-se quase que integralmente a ensinar o filho e guiar seus passos para uma carreira de sucesso. Faleceu na cidade de Salzburg.

Mozart, Maria Anna. V. “Nannerl”

Mozart, Wolfgang Amadeus. [1756 – 1791]. Nascido em Salzburg (Áustria) e criado em um núcleo familiar musical, Mozart já se mostrava um prodígio com pouca idade. Guiado por seu pai Leopold, também músico, W.A. Mozart cresceu e viajou por toda a Europa para desenvolver seus talentos, tornando-se um renomado compositor. Muito prolífico, Mozart escreveu sinfonias, sonatas, óperas, quartetos de corda e composições de vários outros gêneros. Faleceu na cidade de Viena (Áustria), acometido de uma grave febre. V. “Wolferl”

Mysliveček, Josef. [1737 – 1781]. Nascido em Praga, foi um importante compositor do período clássico, famoso por suas óperas italianas e sinfonias. Mysliveček estudou com o compositor italiano Giovanni Battista Martini (Padre Martini) em Bolonha e posteriormente estabeleceu-se em Nápoles, onde escreveu muitas óperas de sucesso. Ele também era amigo próximo de Wolfgang Amadeus Mozart, que o admirava como um compositor brilhante. Sua música foi influenciada pela escola napolitana, caracterizada por melodias emotivas e ornamentadas. Faleceu em 4 de fevereiro de 1781 em Roma.

“Nannerl”. [1751 – 1829]. Irmã mais velha de W. A. Mozart. Musicista e compositora de reais méritos, e os limites deste verbete não podem abranger tudo o que se deve dizer a seu respeito. Há uma boa biografia: Eva Rieger, em 2005, lançou Nannerl Mozart: Das Leben einer Künstlerin [em português, Nannerl Mozart: a vida de uma artista]. Deixo, entretanto, à arte um papel complementar e mais abrangente: em 2010 o realizador René Féret dirigiu um interessante filme, chamado “Mozart’s Sister”; a escritora Rita Charbonnier escreveu um imaginativo romance em 2006, chamado Mozart’s Sister. Ainda é aceso e crescente o debate se Nannerl era mais talentosa que seu irmão, mas nunca chegaremos a uma resposta que convença a todos, pois todos os argumentos, de parte a parte, já foram postos. Espero que minha visão de Nannerl, nesta novela, traga alguns subsídios para isso.

Sem verbetes. 

Pachelbel, Johann. [1653 – 1706]. Compositor e organista do período barroco, Johann Pachelbel na cidade de Nuremberg, Alemanha. Ele é mais conhecido por sua peça “Canon em Ré Maior”, que se tornou uma das obras mais populares da música clássica. Pachelbel trabalhou como organista em várias igrejas na Alemanha e como professor de música. Compôs uma grande quantidade de música sacra, incluindo missas, motetos e hinos, bem como música de câmara e para teclado.

Paisiello, Giovanni. [1740 – 1816]. Nascido em Taranto, Itália, Paisiello foi um compositor conhecido por suas óperas cômicas. Estudou música em Nápoles e por lá se estabeleceu até ser contratado como compositor da corte em São Petersburgo, trabalhando para Catarina II. Suas óperas cômicas, como Il barbiere di Siviglia, foram muito populares e influenciaram compositores posteriores, como Rossini. Também escreveu música sacra e instrumental, incluindo seis sinfonias. Durante a Revolução Francesa, mudou-se para Paris, onde trabalhou para Napoleão Bonaparte, porém, devido a uma série de insatisfações, regressa à Nápoles e fica por lá até sua morte.

Palestrina, Giovanni Pierluigi da. [1525 – 1594]. Foi um compositor italiano do período renascentista. É considerado um dos mais importantes compositores de música sacra da época, tendo sido influente na reforma litúrgica do Concílio de Trento. Algumas de suas principais composições incluem a Missa Papae Marcelli, o Stabat Mater e a Missa Brevis, nas quais podemos escutar o seu virtuoso estilo polifônico característico. Palestrina passou grande parte de sua carreira como músico e compositor na Basílica de São Pedro em Roma.

Paradis, Maria Theresia von. [1759 – 1824]. Pianista, cega desde os 3 anos, de grande notoriedade em Viena na década de 1780. Fez turnês pela Europa, com sucesso. Sua relação com o Dr. Mesmer, que tentou curá-la, resultou num belo filme de Barbara Albert [2017], chamado Licht [“Luz”], com o título, no Brasil, de “Mademoiselle Paradis”.

Ponte, Lorenzo da. [1749 – 1838]. Foi libretista das seguintes óperas de W. A. Mozart: As bodas de Fígaro, D. Giovanni e  Così fan tutte. Sua vida foi aventureira, pendendo para o patético. É autor de um saboroso e paranoico livro autobiográfico, Lorenzo da Ponte: Memórias, publicada no Brasil pela Editora Lacerda em 1998.

Sem verbetes. 

Reichenauer, Johann Anton. [1694 – 1730]. Compositor do período barroco, nasceu em Praga e faleceu com apenas 36 anos. Suas peças tiveram grande influência de Antonio Vivaldi. Compôs concertos, triosonatas, obras para orquestra e música sacra. 

Salieri, Antonio. [1750 – 1815]. Compositor oficial da corte austríaca e mestre da capela imperial. Nascido na Itália. Compositor prolífico e celebrado, desfrutou de prestígio em toda a Europa, sendo comparado a mestres como Joseph Haydn. Foi professor de Beethoven, Franz Schubert tantos outros. Importante: deu aulas a Franz Xaver, o filho mais novo de W. A. Mozart, a pedido de Constanze, já viúva, e isso mostra o grande apreço que a família lhe dedicava. Será necessário que ainda passem décadas até que sua imagem seja recuperada de sua degradante representação no filme “Amadeus”, de Milos Forman.

Schobert, Johann. [1735 – 1767]. Compositor alemão. Viveu em Paris a partir de 1760, como músico do poderoso Príncipe de Conti. Exerceu poderosa influência sobre W. A. Mozart quando este, criança, esteve na cidade, acompanhado de Leopold. Passou tristemente à História também por um fato bizarro: ele e toda a família morreram por terem ingerido cogumelos venenosos. [Por mera proximidade fonética, alguns o confundem com o também compositor Franz Schubert].

Schubart, Christian Friedrich Daniel. [1692 – 1771]. Poeta, músico e jornalista alemão, nascido em Obersontheim . Estudou teologia e filosofia antes de se dedicar à música. Schubart trabalhou como músico e compositor em várias cidades alemãs e se tornou um dos principais críticos musicais de sua época, escrevendo para o jornal “Deutsche Chronik”. Em 1777, foi preso pelo duque de Württemberg por suas opiniões políticas contrárias aos jesuítas e permaneceu na prisão por 10 anos. Durante esse tempo, escreveu muitas poesias, incluindo o poema Die Forelle (A Truta), que foi musicado por Franz Schubert. Faleceu no ano de 1791 em Stuttgart, Alemanha.

Schrattenbach, Conde Sigismund III Christofer von.  [1692 – 1771]. Príncipe-Arcebispo de Salzburg de 1753 a 1771. Antecessor do Arcebispo Von Colloredo. Durante sua administração, realizou grandes obras na cidade, mas passou à história com a proteção benevolente que deu aos Mozarts, autorizando suas viagens, inclusive colaborando financeiramente para as despesas. Sua morte, ocorrida em 1771, foi grande pesar para Leopold e família. A partir daí, com a ascensão do Príncipe-Arcebispo Von Colloredo, tudo se complicou para a família.

Telemann, Georg Philipp. [1681 – 1767]. É considerado um dos compositores mais prolíficos da história da música, tendo produzido inúmeras obras em diversos gêneros, incluindo óperas, cantatas, concertos, suítes, sonatas e música sacra. Nasceu na cidade de Magdeburg e, para além de sua produção musical, Telemann foi um importante líder cultural em sua época, ocupando cargos em diversas cidades alemãs e estabelecendo importantes conexões com outros músicos e patronos. Sua música é conhecida por sua originalidade, virtuosismo e diversidade estilística. Faleceu no ano de 1767 na cidade de Hamburgo.

Sem verbetes. 

Vivaldi, Antonio. [1678 – 1741]. Nascido em Veneza, Italia, Vivaldi foi um importante compositor e violinista. Ele é conhecido por suas inovadoras e virtuosísticas composições para violino, que o tornaram um dos mais importantes músicos do período Barroco. Entre suas obras mais famosas estão as Quatro Estações, uma série de concertos para violino que retratam cada uma das estações do ano. Além de sua carreira musical, Vivaldi também foi padre e ensinou música no Ospedale della Pietà em Veneza. Faleceu no ano de 1741 na cidade de Viena.

Wagenseil, Georg Christoph. [1715 – 1777]. Georg Christoph Wagenseil foi um compositor austríaco do período barroco tardio e clássico inicial. Nasceu em Viena e estudou com Johann Joseph Fux. Wagenseil trabalhou como músico na corte imperial austríaca e como organista em Viena. É conhecido por suas sonatas para teclado e seus concertos para instrumentos de sopro e cordas, para além de seu catálogo de óperas e música sacra. Faleceu em sua cidade natal.

Waldstätten, baronesa Martha Elisabeth von. [1744 – 1811]. Nobre austríaca, amadora avançada de música, protetora de Constanze e W. A. Mozart. Teve papel decisivo para o casamento de ambos. Antes disso, protegeu a noiva das disputas familiares, levando-a para seu palácio, onde lhe deu educação aristocrática ao estilo do período. Uma descendente sua, Nora Von Waldstäten [nascida em 1981] é uma notável atriz de cinema e tv, com protagonismo na série Die Toten vom Bodensee [“Os mortos do lago Constança”].

“Wolferl”. [Wolfgang Amadeus Mozart] – Na família Mozart todos se tratavam por nomes diminutivos ou divertidos. Assim, “Wolferl”, que poderia ser traduzido grosseiramente como “Wolfinho”; “Nannerl”, como “Aninha” ou “Anica”; Bäsle como “Priminha”; “Tresel”, a empregada doméstica, como “Teresinha”. Até a graciosa cadelinha Miss Pimpelr, ou Miss Pimpes, entrava nesse rol, embora não se saiba seu nome “oficial”.    

Sem verbetes. 

Sem verbetes. 

Sem verbetes. 

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Quarteto de cordas n.19 em Dó maior (KV 465)
“[…] mas um desses quartetos, em Dó maior, inicia com 22 compassos dissonantes.”

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