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por Ária Rita (alaudista e professora de música, residente em Genebra, Suíça)
alaúde. Instrumento de cordas dedilhadas aparentado do violão moderno. Característico pelo formato oval ou arredondado da sua caixa de ressonância, surge originalmente no mundo Islâmico e se populariza no Ocidente no final da Idade Média, sendo então alterado para se adequar à cultura musical local. É um dos instrumentos mais populares da Europa dos séculos XVI e XVII, amplamente utilizado tanto para solos quanto para acompanhamento de cantores e outros instrumentos.
arco. Vara de madeira tensionada com crina de cavalo, usada para tocar instrumentos de cordas friccionadas, como o violino, violoncelo e viola da gamba.
ária. O termo “ária” (em francês, “air”) no século XVII se refere a diversos tipos de canção, geralmente executada por um cantor acompanhado de um instrumento harmônico como o alaúde ou o cravo. Porém, nos diálogos dos personagens do livro, a palavra “air” (“ária”) faz referência as peças instrumentais de viola da gamba solo, pois no período também poderia ser usado como um termo genérico para “melodia” ou “peça melodiosa”.
arpejo. Forma de se executar um acorde em que suas notas não são tocadas simultaneamente, mas de forma sequencial, gerando uma “melodia” saltada. Os arpejos foram largamente utilizados na música Barroca, e são particularmente idiomáticos do repertório de viola da gamba.
baixo. Termo usado em música para se referir à parte mais grave de uma música — ou a um instrumento ou cantor que executa esse papel. Na música Barroca, o baixo exerce um papel particularmente fundamental: uma peça sempre é formada por uma melodia principal (mais aguda) que é sustentada por um uma outra melodia mais grave (o “baixo”) que dá sustentação à primeira.
braço [de um instrumento]. Parte estendida de um instrumento de corda, como o violão ou o violino, onde o músico pressiona as cordas com a mão esquerda (no caso de destros).
corpo [de um instrumento]. Parte principal de um instrumento de cordas, sobre o qual o músico fere as cordas para produzir o som.
contralto. V. coro. Uma das quatro extensões da voz humana: soprano, contralto, tenor e baixo (do mais agudo ao mais grave). O contralto é tradicionalmente associado a vozes graves femininas.
coro. Grupo de cantores. Frequentemente dividido por vozes, como soprano, contralto, tenor e baixo. A música de coro era central para o período, particularmente no que se refere à música religiosa, e participar do coro de uma grande igreja ou palácio era tido como um enorme prestígio.
cromatismo. V. escala cromática.
detáché. Técnica de instrumentos de corda onde cada nota é tocada separadamente por um movimento do arco, ao invés de ligadas por uma única arcada.
escala. Sequência de notas adjacentes, ascendente ou descendente.
escala cromática. Sequência de notas que sobe ou desce por semitons, usando todas as 12 notas dentro de uma oitava.
Sem verbetes.
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improvisação. termo amplo que se refere a uma série de possibilidades de criação musical no momento da performance, pra além daquilo que está escrito ou previsto na partitura. Na música Barroca pode tanto se referir a formas de ornamentação de melodias previamente escritas, bem como a criação de melodias novas sobre um baixo ou harmonia previamente conhecidos, ou até mesmo na invenção de uma música inteiramente do zero.
Sem verbetes.
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luthier. Artesão que constrói ou repara instrumentos musicais.
melodia. Sequência de notas com sentido musical em si. Se uma peça tiver diferentes melodias, “a melodia” se refere à parte central da música, que é cantada ou tocada pelo instrumento principal.
Sem verbetes.
ópera. Forma de teatro musical típica no Barroco, mas que continuou sendo explorada e desenvolvida nos períodos seguintes.
organista. V. órgão. Músico que toca o órgão.
órgão. Grande instrumento musical de teclado que produz som por meio de tubos de metal por onde o ar passa. É comum em igrejas e é muito usado nos serviços litúrgicos.
orquestra. Ggrande grupo de músicos que tocam diferentes tipos de instrumentos. A orquestra barroca ainda não tinha a configuração das orquestras modernas, elas possuíam variadas configurações e tamanhos (geralmente menores do que as atuais). Outra diferença é a presença imprescindível de instrumentos harmônicos, como cravos, alaúdes e teorbas, o que conferia um particular timbre “pinçado” ou “crocante” à música orquestral desse período.
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suíte. Sequência ordenada de peças instrumentais, frequentemente danças. Na música Barroca francesa, se refere a uma sequência específica de danças que tem determinadas características musicais, no caso: Allemande, Courante, Sarabande e Gigue.
tema. Trecho melódico que equivale à ideia musical principal ou recorrente em uma composição. Na música Barroca pode se referir a uma melodia que é usada como base pra improvisações.
teorba. V. alaúde. tipo de alaúde particularmente usado para acompanhamento no período Barroco, característico por seu tamanho maior e sua bela extensão gravT.
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viola da gamba. Instrumento de arco muito popular na Europa durante o Renascimento e o Barroco. Apesar de poder ser confundida com um violoncelo devido a certa semelhança visual, se trata de um instrumento diferente. A viola da gamba possui trastes no braço e conta com 6 ou 7 cordas, que são afinadas de forma similar a um alaúde ou violão, permitindo maior uso de acordes, polifonias e arpejos. A palavra “gamba” significa “perna” em italiano, e era o nome usado para diferenciar essa viola que seria segurada nas coxas do músico, e não no braço ou ombro como os violinos (que era chamado “viola da braccio”, ou seja “viola de braço“). A viola da gamba mais popular e que era utilizada na música solo era a viola da gamba baixo, que possui uma extensão mais grave e um tamanho próximo ao do violoncelo. No entanto, violas da gamba de diferentes tamanhos e diferentes extensões também eram usadas, como a viola da gamba tenor, a soprano, a pardessus e o violone. Diferentes instrumentos da família da viola da gamba poderiam ser usados para formar um consorte, ou grupo. No Barroco, a viola da gamba é especialmente associada à música francesa, enquanto o violino e violoncelo eram os instrumentos italianos por excelência.
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por E. Effi-Silva (musicólogo)
François Couperin. [1668 – 1733]. Além de compositor, Couperin foi cravista e organista e compôs diversas obras para estes instrumentos, além de peças vocais sacras e profanas e várias obras de câmara. Escreveu um importante tratado sobre a técnica do cravo, L’art de toucher le clavecin, publicado em 1716.
Jean-Baptiste Lully. Senhor Lully [1632 – 1687]. Apesar de ter nascido em Florença, Itália, com o nome de Giovanni Battista Lulli, se naturalizou francês e entrou para a história como um dos maiores mestres do barroco francês. Compositor, guitarrista, violinista e regente, trabalhou boa parte de sua vida na corte do monarca Luís XIV. Compôs peças sacras e profanas, de diversos gêneros e formações, tanto vocal quanto instrumental, mas foi por suas inúmeras óperas que Jean-Baptiste Lully se destacou. Foram justamente elas que inauguram uma nova tradição musical francesa, a tragédie en musique ou tragédie lyrique. Teve uma morte trágica e única na história da música: enquanto regia o seu Te Deum, Lully acidentalmente acertou o próprio pé com um longo e pesado bastão que se usava na época para marcar o ritmo com batidas no chão. Uma gangrena acabou por se espalhar por todo o corpo, levando-o à morte em 1687, em Paris.
Marin Marais. [1656 – 1828]. Filho de sapateiro, Marin Marais nasceu no ano de 1656 em Paris. Estudou composição com Jean-Baptiste Lully, além das aulas com Sainte Colombe por seis meses (estas nunca foram citadas diretamente por Marin Marais, mas apenas por terceiros). Compôs inúmeras peças instrumentais, além de óperas e peças sacras. Considerado um dos maiores mestres da viola da gamba, deixou um repertório enorme para o instrumento: solos, duos, trios, e outras formações. Em 1676 foi contratado como músico pela corte real de Versalhes e obteve o título de ordinaire de la chambre du roy pour la viole em 1679, que manteve até 1725. Casou-se com Catherine d’Amicourt, com quem teve dezenove filhos, e morreu em 1728, em Paris.
Sainte Colombe. [c. 1640 – c. 1700]. Pouco se sabe do senhor de Sainte Colombe, nem mesmo seu primeiro nome, data e lugar de nascimento e morte são conhecidos. Deixou inúmeras peças para viola solo, além de duetos de caráter pedagógico: uma parte superior, mais fácil, a ser tocada pelo aprendiz, e outra mais grave e difícil, a ser executada pelo mestre. A introdução de uma sétima corda na viola da gamba é credita à Sainte Colombe, que compôs mais de 170 peças para o instrumento.
Ao clicar sobre a canção (em negrito) a gravação abrirá no Spotify.
Tombeau les regrets (Túmulo dos lamentos) – Sainte Colombe
“Amava-a. Foi nessa ocasião que compôs o Túmulo dos lamentos.”
Chaconne Dubois – Sainte Colombe (penúltimo movimento do concerto n.54 para duas violas da gamba, “La Dubois”)
“O senhor de Sainte Colombe tocou a Chaconne Dubois […]”
Escute aqui – trilha sonora de Todas as manhãs do mundo (filme)
Com exceção do Tombeau les regrets (Túmulo dos lamentos) e da Chaconne Dubois, ambas de Sainte Colombe, todas as outaras obras musicais que aparecem no livro fazem parte da ficção e não existem fora dela. É importante lembrar, porém, que os protagonistas Sainte Colombe e Marin Marais, foram, de fato, instrumentistas e compositores em suas épocas. A adaptação de 1991 do livro para o cinema, do diretor Alain Corneau em colaboração com Pascal Quignard, contou com o gambista Jordi Savall na direção musical da trilha sonora, que foi lançada em um álbum que alcançou sucesso internacional. Jordi Savall interpreta obras de Sainte Colombe e Marin Marais, além de François Couperin e Jean-Baptiste Lully.
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