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Resenhas

Assis Brasil e o pai de um gênio

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Resenha
Jornal Zero Hora (Porto Alegre) – 11/06/2023
por Cíntia Moscovich

O ano é de 1785. Ao tomar assento na diligência noturna que faz o trajeto entre Salzburgo e Viena, um músico relembra as aflições que enfrentou em busca do objetivo de sua vida — tornar o filho o maior compositor da Europa — e, diante da evidência de que o jovem, Wolfgang Amadeus Mozart, se tornou, de forma precoce, o mais brilhante entre os melhores, tenta também esquecer o assombro de ver sua missão esvaziada. Esse é o entrecho de Leopold: Uma Novela, livro que que o escritor Luiz Antonio de Assis Brasil autografa no dia 17 de junho às 17h, no Foyer do Theatro São Pedro.

Um dos maiores romancistas brasileiros, autor, entre outros, da trilogia Um Castelo No Pampa, de Cães da Província e de O Pintor de Retratos, responsável pela oficina de criação literária da PUCRS e pelo curso de Escrita Criativa também na PUCRS, Assis já foi violoncelista da OSPA — e sempre foi apaixonado por Mozart. Instigado pela mulher, Valesca de Assis, e movido por um grande interesse por esses personagens que vivem nas margens da História (caso de seu Figura na Sombra, de 2012), decidiu atirar-se à pesquisa e compor um painel possível da vida de Leopold, que era grande humanista, religioso à medula, e que teve de lidar com um menino prodigioso mas de vontades caóticas. Com opção pela primeira pessoa, compondo uma espécie de solilóquio, Assis nos remete de imediato à interioridade do pai de W. A. Mozart e a esse desconcerto fundamental, mola-mestra do enredo, que surge de uma cena nunca menos que bela, em que Haydn, um dos mais festejados músicos europeus, sentencia que o jovem músico é um dos maiores compositores do mundo, “tanto em pessoa como de nome” — declaração que, de fato, está registrada numa carta de Leopold para a irmã de Wolfgang, Nannerl. Enquanto a diligência avança pela madrugada, as lembranças vão se alternando em suave desobediência à cronologia: o texto se arma como uma trama muito delicada ou como, que seja, uma sinfonia, cujo tema é a afirmação de Haydn, que torna evidente o que, para a paz de Leopold, deveria permanecer tácito. Como é de praxe em Assis, suas frases e períodos têm andamento excepcional, uma extração majestosa, de elegância rara e impositiva, mas que não deixam de ser sedutoras e envolventes, prosódia que pode ser posta na conta da formação musical. Com uma reconstituição de época esmerada, o livro possui um apelo visual (também) digno de nota.

Primeiro livro da editora mineira Zain, Leopold oferece um mimo: um marcador de páginas com um QR Code que remete às composições mencionadas no livro, além de um rico glossário que explica os termos musicais utilizados.

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